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Tecnologia brasileira de veículo autônomo poderá chegar ao transporte coletivo

02/01/2018 | Geral

Uma inovação tecnológica que permite o carro circular sem intervenção humana na direção pode ser o primeiro passo para que, num futuro não tão distante, o transporte coletivo urbano brasileiro seja realizado por ônibus autônomos. O ousado projeto, que utiliza inteligência artificial, faz parte de estudos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e resultou em um veículo que funciona com êxito conhecido por IARA (Intelligent Autonomous Robotic Automobile – tradução literal: Automóvel Robótico Autônomo Inteligente).

Exibido em agosto na Feira Transpúblico, em São Paulo, o veículo autônomo chamou atenção de empresários que prometem alavancar o mercado de robótica e inteligência artificial no Brasil e também iniciar testes com essa tec- nologia em ônibus coletivos urbanos. Nesse sentido, a NTU apoia e incentiva a adoção de novas tecnologias para o setor e pretende participar das discussões sobre esse modelo de transporte de pessoas, testado atualmente em várias partes do mundo.

“É um software totalmente nacional, vamos prestigiar a ciência e a pesquisa do Brasil. É importante buscarmos novas tecnologias para conseguirmos ofertar um serviço de melhor qualidade, com um custo efetivamente mais barato”, pontua Otávio Cunha, presidente executivo da NTU.

A TECNOLOGIA

A tecnologia IARA foi instalada num carro híbrido automático modelo Ford Escape, importado, e começou a funcionar em 2009, quando o veículo fez o seu primeiro trajeto autônomo no Campus da Ufes. O modelo híbrido possui um sistema de baterias que permite alimentar os equipamentos instalados no veículo como também fazê-lo circular. O carro recarrega a bateria nos momentos de frenagem e aceleração.

O “cérebro” do veículo é composto por um computador de alta performance que faz leituras complexas, identifica volumes e segue por caminhos pré-programados, podendo tomar decisões e fazer ajustes de rota conforme necessário. Um feixe de laser instalado na parte superior externa do veículo é o que permite fazer o mapa do ambiente. Duas câmeras estéreo, que simulam o olho humano, possibilitam que o carro tenha uma noção de profundidade, e um GPS de alta precisão mostra onde está a sua localização. O sistema também identifica e desvia de obstáculos e possui botões de emergência internos e externos para a parada do veículo.

O projeto da IARA conta também com um controle remoto que pode ser acionado a qualquer momento e com um carro de apoio que a acompanha para qualquer intervenção, caso haja necessidade. Em maio de 2017, durante primeira viagem de 74 km/h, no percurso de Vitória a Guarapari, no Espírito Santo, o carro percorreu todo o trajeto em uma velocidade média de 42,3 km/h, atingindo um máximo de 50km/h, sendo que 99,9% do trajeto foi sem intervenção humana.

Os estudos estão sendo desenvolvidos pelos pesquisadores do Laboratório de Alto Desempenho (LCAD) da Ufes, sob o comando do professor Alberto Ferreira de Souza. Segundo o professor, a ideia foi estudar como o cérebro humano funciona para ser usado como referência; a pesquisa foi fragmentada e eles decidiram iniciar pela visão.

TESTES EM ÔNIBUS

Segundo informações apuradas pela Revista NTU Urbano, é possível que uma fabricante nacional forneça um chassi para que se iniciem os testes de adaptação da tecnologia em ônibus coletivos urbanos. O veículo pode andar com segurança a uma velocidade de até 60 km/h, suficiente para um ônibus convencional transportar passageiros, caso a tecnologia seja realmente implementada no transporte coletivo. Para o acadêmico, é totalmente viável dar autonomia para os ônibus coletivos urbanos.

“É uma tecnologia de fácil adaptação para ônibus. Se implantada, dentro de 2 a 3 anos, no máximo, é possível ter coletivos autônomos no mercado”, explica. Como a IARA é capaz de identificar qualquer tipo de obstáculo – pessoas, quebra-molas, semáforos, etc –, será possível que os coletivos circulem em qualquer via urbana sem, necessariamente, depender de pistas ou faixas exclusivas, como acontece atualmente com ônibus semelhantes fora do Brasil.

Segundo Luiz Eduardo Lozer, diretor da Geocontrol - empresa de tecnologia que atua nas áreas de mobilidade urbana, transporte, defesa nacional e segurança, e que está investindo nessa inovação -, a ideia é trabalhar com um ônibus de 11 metros de comprimento. De acordo com Lozer, serão necessárias várias adaptações.

“O que muda no salto do automóvel para o ônibus é que, por ser um veículo maior, ele precisa de mais sensores, tem ponto cego; o chassi tem que ter transmissão automática, direção elétrica, é preciso sincronizar o abrir e fechar das portas e programar para que ele encoste perto das estações”, revela Lozer.

PELO MUNDO

ALEMANHA: o projeto desenvolvido pela Mercedes-Benz foi apresentado em julho de 2016, na cidade de Hannover, Alemanha. O veículo batizado de “City Pilot” foi testado em uma das maiores rotas de BRT da Europa. A tecnologia autônoma realiza viagens com até 70 km/h e utiliza dispositivos de monitoramento para que o veículo reconheça placas de sinalização e semáforos, além de abrir e fechar portas nas paradas e frear automaticamente ao detectar obstáculos.

INGLATERRA: o veículo recebeu o nome “Gateway” e deve atender cerca de 100 pessoas na região de Greenwich, em Londres. O protótipo, com capacidade para quatro pessoas, circula em fase de testes e deve ser definitivamente adotado em maior escala a partir de 2019, podendo ser levado posteriormente para outras regiões. Completamente controlado por computador, o Gateway possui um eficiente sistema de sensores com cinco câmeras e três lasers que permitem detectar automaticamente qualquer obstáculo que exista até cem metros à frente.

FINLÂNDIA: Helsinque, capital e maior cidade finlandesa, aderiu à onda de testes com veículos de transporte coletivo sobre pneus que podem operar sem motorista. A partir de setembro de 2016, dois miniônibus, com capacidade para nove passageiros, iniciaram os serviços entre duas estações do distrito de Hernesaari.

 

Matéria publicada na Revista NTU Urbano, edição novembro/dezembro de 2017*

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